A minha saudade tem cheiro…tem cores…tem sabores.
A minha saudade tem cheiro…tem cores…tem sabores.
Ivonete Rosa – 08 setembro 2018
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A minha saudade é plural e multifacetada, quero falar um pouco sobre ela. Permitam-me.
Minha saudade é colorida, tem o vermelho das flores do flamboyant que meu pai plantou em frente à casa onde nasci. Tem, também, o amarelo dos ipês e o tom alaranjado do pequi.
A minha saudade usa vestido florido, e faz comida gostosa no fogão a lenha…saudade materna, saudade eterna.
A saudade que se abriga em mim tem muitas fragrâncias. Tem cheiro de café coado no meio de uma tarde morna na fazenda, acompanhado de um requeijão caipira. Cheiro de terra molhada pela primeira chuva de setembro. Meu coração chora quando me lembro.
Minha tem o cheiro do abraço do meu pai e dos longos cabelos da minha mãe. Sou grata aos sons que ecoarão para sempre em minhas lembranças. O trovão num fim de tarde, a água caindo no telhado da casa velha que me viu nascer.
A voz do Zé Bétio num rádio de pilha, sobre uma mesa rústica feita pelo meu avô materno. O latido do cachorro da minha infância, o berro do boi manhoso no curral, os sapos coaxando na represa a noite inteira, o canto do galo anunciando o novo dia.
Saudade de incontáveis sabores. Sabor da primeira manga colhida no pé. Sabor do chá de manjericão que minha avó fazia.
Sabor de bolo brevidade que nunca mais vou comer, pois Deus levou a fabricante. Sabor de balinhas de frutas com embalagens de papel, que meu pai trazia da pequena Simolândia, aos domingos. Saudade com cara de bonecas de espigas de milho, meus brinquedos da infância. Minha saudade passeia sobre o cavalo Roxão, que me conduzia segurando na cintura do meu pai rumo à pequena currutela, aos domingos.
Saudade embalada pelo som das músicas do Pena Branca e Xavantinho, Renato Teixeira,e tantas outras. Minha saudade tem uma professora, Hergina Maria, segurando a minha mão de menina, me ensinando a desenhar as letras e me apresentando uma paixão desenfreada pela escrita.
Minha saudade ouve vozes de um bebê chamando “mamã”, meu filho Gabriel, que Deus me confiou para cuidar, amar e aprender.
Sobretudo, minha saudade anda de mãos dadas com a gratidão e é revestida de fé e da certeza de ser cuidada por um Deus que me ama absurdamente. Gratidão por tudo o que vivi e por todas as saudades que sinto.
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