Deixe a minha intensidade em paz!
Texto de Ivonete Rosa
É impossível escrever sobre intensidade sem me expor, eu até que me esforço. Eu demorei muito para fazer as pazes com esse traço da minha personalidade. Até isso acontecer, eu vivia me esforçando para ser diferente, eu tentava ser mais comedida, mais serena. Olho para trás e percebo o porquê de ter rejeitado a minha própria essência, por décadas. É porque sempre fui criticada pelas pessoas que me cercavam, pessoas que eram significativas para mim.
Por todos os lados, as críticas vinham, de primas, colegas…amigas. Eu me lembro que ia, toda empolgada, falar sobre uma paixão por um rapaz, e, ouvia da outra parte: “nossa, pra quê isso tudo?” Eu me sentia ridícula e sem noção. Eu não me aceitava, queria me encaixar naquele perfil de mulher sóbria. Eu sentia uma grande necessidade de ser aceita, queria vivenciar o sentimento de pertencimento dentro do meu grupo de convivência. Queria ouvir algo positivo sobre essa minha característica, algo do tipo: “você é intensa, que lindo, você sente tudo com a alma”.
Eu era incompreendida, também, na forma de sofrer. As minhas dores, saudades e nostalgias sempre foram viscerais. Já chorei dentro de um supermercado porque estava tocando uma música que meu pai gostava, as lágrimas rolaram imediatamente. Já pedi um abraço a uma senhorinha na fila do verdurão porque ela se parecia muito com a minha mãe. Abracei, chorei e fiz ela chorar também. Eu fico com nó na garganta quando ouço cigarras cantando, porque o som me leva à infância na roça e àquele baú de nostalgias.
Eu me encanto diante de um pé de flamboyant florido, não importa quantos eu tenha visto num mesmo dia. Eu gosto de datas, eu tenho mania de pensar: “há exato um ano, eu vivi tal coisa, e me jogo nas lembranças”. Eu sempre tenho uma música que marcou cada acontecimento.
Eu não meço esforços para viver aquilo que me encanta. Eu sou aquela mulher que embarca num avião e vai para outro estado conhecer, pessoalmente, alguém que despertou o meu encanto. E vou com tudo, obviamente, com a certeza da reciprocidade, sou intensa mas, não sou inconsequente. Eu vivo com o coração saindo pela boca. Eu me recuso a viver certas experiências de forma automática.
Quando entrei nos quarenta anos, pude me entender, me aceitar e me abraçar com esse mar de intensidade. Percebi que, na realidade, a minha intensidade incomoda, especialmente, as pessoas apáticas, que não veem encanto em nada. Eu simbolizo uma afronta à forma delas de verem a vida. Hoje, me olho com orgulho, amo ser assim. Tenho a sensibilidade de uma brisa, mas posso ser um vendaval. Eu aprendi a apreciar as minhas lentes de enxergar a vida. Parei de me sentir inadequada. Serei intensa enquanto eu respirar, essa é a minha condição para existir.