O ônus de expor o relacionamento nas redes sociais
O ônus de expor o relacionamento nas redes sociais
Começo deixando bem claro que não estou julgando ninguém, tampouco, mandando indiretas. Eu já me expus várias vezes nesse quesito, me arrependi e ainda sigo em busca de um equilíbrio.
É fato que a maioria das pessoas gostam de perceber que seus parceiros demonstrem publicamente o quão orgulhosos se sentem por tê-las ao lado. Isso soa como uma validação social, um carimbo que ratifica: eu tenho alguém que me exibe, eu sou amado(a).
Em contrapartida, há os que sofrem pelo fato de os parceiros não fazerem questão de assumirem a relação nas redes sociais. E o motivo pelo qual essas pessoas adotam essa suposta “discrição” são os mais variáveis. Cada caso é um caso. Contudo, no geral, um lado do casal se sente desprestigiado, como se não fosse importante o suficiente para o par.
O que vejo de ônus nesse contexto de exposição, dentre outros fatores, é o desgaste gerado para manter de uma “realidade” que nem sempre existe fora do ambiente virtual. Convenhamos que, por mais feliz e cúmplice que um casal seja, nas redes sociais, essa condição é sempre maximizada, melhor dizendo, quem posta dá uma exagerada, né?
Quanto mais um casal se expõe, mais curiosidade e interesse estará atraindo por parte dos seguidores. Devido ao excesso de exposição e enaltecimento da relação, ao menor sinal de crise, aqueles que os acompanham acionam um “alerta” de que algo mudou entre os pombinhos. Outra coisa: um casal que já está acostumado a estar em evidência e a receber os likes de forma rotineira, enfrentará uma certa dificuldade em administrar uma crise de forma reservada. Ou seja, pode acontecer, por exemplo, de ser o dia dos namorados, e o casal estar brigado, então, obviamente, as pessoas já estarão esperando por aquele textão na legenda de fotos incríveis. Acontece de o casal nem estar se falando e ficar na saia justa de ter que prestar contas e manter as aparências nas redes.
Há casos muito constrangedores em que um dos cônjuges/namorados posta uma homenagem e o outro nem comenta ou, no máximo, apenas curte. Nessas horas, sentimos pena do autor da postagem, é muito embaraçoso. Na realidade, quando nos expomos em demasia no ambiente virtual, nos transformamos em atores com a missão de manter aquele “espetáculo” em cena, tornamo-nos, de certa forma, reféns da nossa exposição.
Partindo do princípio de que o que não é visto não é lembrado, o oposto acaba valendo: quem se expõe demais acaba virando espetáculo dos mais diversos olhares: curiosos, invejosos, empáticos e etc.
Alguns momentos tão íntimos, até mesmo print de mensagens percebemos expostos nas redes sociais, e vem a pergunta: qual o objetivo dessa exposição às pessoas que são, inclusive, desconhecidas ou que não querem o nosso bem?
Conheço uma pessoa que confessou ter mantido por muito tempo um relacionamento por vergonha de romper e “frustrar” os seguidores. Ela disse, em tom de desabafo: “nada daquilo que eu postava, existia, aquilo tudo era um teatro e era horrível manter as aparências, eu me sentia na obrigação de dar satisfação a todos pois meu casamento vivia exposto”. Por fim, a pessoa optou por abandonar por completo as redes sociais. Eu confesso que tenho uma profunda admiração pelas pessoas que conseguem viver seus relacionamentos sem expô-los de forma demasiada.
Acredito que a exposição acaba gerando uma demanda a mais para o casal administrar em caso de crise, pois, ao mesmo tempo em que lidam com a realidade deles, ainda tem a ansiedade de se explicar socialmente. Sem contar o dissabor de ser alvos de tantos pitacos e intromissões em forma de conselhos.
Quanto a mim, já me expus, mas eu não gostei da experiência. Até hoje, sou cobrada por um relacionamento que acabou e que parecia perfeito, mas hoje eu vejo o quanto foi abusivo. Não pretendo mais me expor, é mais fácil resolver, o que quer que seja, quando está dentro das nossas paredes.