De tanto ceder ao outro, chega uma hora em que deixamos de existir
Dentre todas as formas de sentir gratidão, existe uma que é ímpar: é quando o outro, seja lá quem for, desperta o nosso riso e acende a nossa luz.
Pouco importa se por um instante ou por uma vida inteira. Existem pessoas que são capazes de plantar em nós, num único e breve contato, aquela semente que fará toda a diferença em nossa existência.
Em se tratando de presentes, é incomparável a riqueza de receber do outro aquele olhar que diz: “você não é inadequado(a) por ser quem é”, quando você se dá conta de que passou a vida inteira sendo massacrado exatamente por isso.
Num mundo onde não falta quem quer amarelar o nosso sorriso, como não se encantar com alguém que sorri conosco? Como não agradecer por alguém que enxerga espontaneidade em suas ações, enquanto tantos outros insistem em ver segundas intenções?
Como não sentir gratidão por alguém que entende a sua feminilidade, ao invés de julgá-la como vulgaridade?
Como não morrer de amores por quem ama a sua gargalhada em meio a tantos que a consideram escandalosa e desnecessária?
Num mundo em que as pessoas querem modificar umas às outras para se adequarem aos próprios interesses, como não abraçar quem nos aplaude por sermos exatamente quem somos, sem tentar plantar em nós um sentimento de inadequação?
Em prol da aceitação do outro, ás vezes, vamos cedendo, nos ajustando às vontades dele até que chega um dia em que sentiremos saudades de nós mesmos. Não é justo, não podemos permitir, ninguém vale tanto.