Despedir-se da mãe é sepultar um pouco da gente

 In Família
Texto de Ivonete Rosa

Despedir-se da mãe é sepultar um pouco da gente

As despedidas, no geral, nos maltratam. E o que dizer sobre despedir-se da mãe? Para mim, esse tema é tão desolador, que, ao me imaginar escrevendo sobre ele, as lágrimas brotaram imediatamente.

 Eu e minha mãe nos despedimos no natal de 2010. Um dia desses eu me dei conta de que há 12 anos eu não pronuncio a palavra “mãe” referindo-me à minha, sabe?

Eu sinto tanta falta disso, de frases simples como “bênção, mãe” ou “mãe, a senhora viu fulano”?

Tanta coisa para ser dita a ela e tanta coisa que eu gostaria de ouvir dela.  Quando perdemos a nossa mãe, tanta coisa se agiganta dentro de nós. Fica um grito preso na garganta e uma louca vontade de voltar no tempo.

O arrependimento vira uma visita constante e incômoda. Arrependemo-nos por não ter tido mais paciência em determinados momentos, puxa vida, não custava nada! Nos arrependemos de não ter demorado mais dentro do abraço dela. Por que não dissemos com mais frequência e ênfase que ela estava linda dentro daquele vestido florido e acinturadinho?

Por que deixamos passar tantas oportunidades de acariciar  aquele rostinho tão sofrido? Por que nunca dissemos que, apesar das marcas do tempo, ela era muito linda? Por que omitimos dela que tínhamos muito orgulho da guerreira que ela foi? Tantos “porquês”, tantos “e se”…tantos “ah, se eu tivesse”.

E assim vamos levando a vida sem o amor que era uma amostra do amor de Deus. Nos damos conta de que, aqui na terra, nenhum amor se assemelha ao dela.

Uma mãe não ama o filho porque ele é bom, bonito ou inteligente. Ela o ama porque, ao dar à luz ou ao adotá-lo  esse amor  lhe foi apresentado e pronto.

Não importa a idade que tenhamos ou o quão bem sucedido sejamos, quando nossa mãe vai embora, nos sentimos sem direção e com medo. Medo de não conseguirmos caminhar sem aquele amor incondicional. Afinal, a certeza de sermos amados, ainda que por uma única pessoa, nos empodera e nos imuniza das mazelas desse mundo.

Perder um amor dessa magnitude nos torna desprotegidos e assustados. Carinho de mãe é sempre aveludado, por  mais ásperas  que sejam as suas mãos. O cheiro dela é sempre gostoso, mesmo que ela não use perfume, é cheiro de amor.

Sempre que viajo de avião, entre as nuvens, eu fantasio que estou bem perto dos meus pais. Eu os imagino sentados num banquinho olhando para o horizonte e esperando por mim, em frente a uma casinha bem simples.  Na cena, todos os cachorros e gatos que tivemos um dia estão presentes. Tem um bule de café e biscoitos de polvilho. Eu chego e nos abraçamos por muito tempo e vamos compartilhar as novidades.

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