Quando o abraço não tem gosto de lar

Quando o abraço não tem gosto de lar
Um dia desses eu vi um post no instagram que dizia isto: “o seu abraço tem cheiro de lar”. Aquela frase mexeu muito comigo, reverberou aqui dentro dessa alma escritora que sente tudo à flor da pele. De imediato, vieram à memória alguns abraços que me fizeram sentir em casa; bem como surgiram alguns flashes de memórias desconfortáveis e até dolorosas de abraços que gritaram para mim que ali não era o meu lugar; que ali não existia o afeto que minha alma buscava.
O corpo fala, e o abraço denuncia claramente a qualidade do vínculo de um casal. Há abraços que mais rejeitam do que acalentam, pois não passam de um entrelaçamento de braços, algo meramente anatômico. Abraço gelado que traduz a indiferença dos envolvidos, ou de parte de um deles.
Um paciente me confessou: “eu nunca sei como devo abraçar a minha esposa. Nunca sei se estou apertando muito ou pouco. Tenho receio de que meu abraço a incomode, eu nunca tenho segurança na hora de tocá-la. No fundo, percebo que ela não faz questão que eu a toque. Na verdade, sinto que ela rejeita o meu toque”. Eu disse, em seguida: isso é falta de sintonia e de intimidade entre vocês. O abraço da sua esposa não tem gosto de lar, não te acolhe, não te acalenta, não te protege e não fala de amor. Você trava porque não percebe reciprocidade. Você percebe que a sua parceira não se deleita em sua entrega física e emocional. Isso te constrange, te humilha, te fere e te causa um profundo sentimento de inadequação dentro dessa relação.
O homem, lacrimejando, disse: “como você consegue traduzir isso com tanta fidelidade? É exatamente assim que me sinto”! Por pouco eu teria dito: “eu já estive em seu lugar”. Mas argumentei de outra forma.
Sabe, pior do que não trocar carinho é sentir o seu carinho rejeitado. Pior do que não ter quem abraçar, é abraçar quem não faz questão do seu abraço.