Eu sabotei a aquisição do meu primeiro carro
Eu sabotei a aquisição do meu primeiro carro
Eu nasci numa família muito pobre. Meu pai era semianalfabeto e, minha mãe, analfabeta. Sou a penúltima dos 8 filhos que meus pais tiveram (2 mulheres e 6 homens). Nasci e morei num sítio até os 12 anos de idade. Dentre os meus irmãos, apenas 2 têm o ensino médio, que cursaram depois de adultos; os demais possuem apenas o ensino fundamental.
Há 26 anos, para a realidade da minha família, alguém com um carro era uma pessoa rica. E minha família não via a riqueza com bons olhos.
Eis que, em 1995, aos 20 anos, eu ingressei no Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal. O salário era alto, considerando a minha realidade da época. Praticamente todos os meus colegas de farda, que ingressaram juntos comigo compraram um carro na época. Alguns compraram assim que entraram no Curso de Formação de Soldado; outros compraram assim que concluíram o curso.
E eu? Advinha o que aconteceu? Só fui comprar o meu primeiro carro 6 anos depois, em 2001. E só comprei porque tive o meu filho em 1999 e me sentia sacrificada me desdobrando para levá-lo à creche, de ônibus e seguir para o trabalho. Sem contar que ele tinha muitas crises de asma, então, as idas à emergência eram frequentes, em qualquer hora do dia ou da noite.
Eu havia tirado a minha habilitação em 1997.
Sabe por que demorei comprar o meu primeiro carro? Porque eu me sentia culpada por estar ganhando um bom salário enquanto os meus irmãos ganhavam mixaria em trabalhos braçais. Alguns trabalhavam no corte de cana, considerado trabalho escravo tempos depois. Eu tinha um medo inconsciente de estar abandonando o meu clã familiar. Era um receio de eles deixarem de me amar se eu tivesse um carro. Medo de estar traindo a história da minha família. Medo de romper com o pacto de pobreza da minha família. Medo da sensação de não pertencimento.
Essa consciência veio tempos depois. Superei e ainda trabalho algumas crenças limitantes.
Você tem algum pacto de fidelidade nocivo com a sua família?