Se não consegue florescer, talvez o terreno seja incompatível com você
Se não consegue florescer, talvez o terreno seja incompatível com você
De vez em quando, eu me deparo com algum post, nas redes sociais, com a seguinte frase: “floresça onde estiver plantada”, cuja autoria eu desconheço. Inclusive, eu já participei de algumas pregações religiosas, para mulheres, onde essa “ordem” era enfatizada. Por coincidência ou não, certa vez, há alguns anos, participei de um retiro espiritual para mulheres, e a pregadora, muito fervorosa, gritava ao microfone: “seja sábia, floresça onde Deus te plantou. Surpreenda quem duvida de você. Faça a diferença”.
Na ocasião, eu não escrevia nem era psicóloga. Digamos que o meu senso crítico era menos ativo. Para piorar, eu estava deprimida, buscando salvação para o meu ex casamento. Conforme a pastora enfatizava que nós, mulheres, deveríamos fazer a diferença nos nossos casamentos, trabalho, etc. eu fui invadida por um profundo sentimento de fracasso. Eu olhava para a minha vida e me via de mãos atadas. Como eu iria fazer a parte de dois no meu casamento? Eu estava precisando de cuidados, eu estava doente, dopada de remédios controlados. Internamente, eu perguntava: “florescer onde estou plantada? Com que forças, meu Deus? Com que condições? Ao mesmo tempo, eu me sentia culpada, inadequada, não merecedora do que é bom e completamente fora do eixo.
Tempos depois, após o meu divórcio, eu iniciei o meu processo de florescimento. Fui acessando potenciais e habilidades que eu nem sabia que existiam em mim. De cara, vieram à tona uma escritora visceral, e uma psicóloga apaixonada pela alma do outro. Veio, também, um relacionamento que curou muitas feridas e me deu a sensação de ter vinte e poucos anos, em se tratando de euforia e entusiasmo.
Foi libertador demais para mim. Eu vi que não tinha nada de inadequado, eu sou uma semente fértil, sempre fui, só não florescia antes porque estava plantada em um solo ácido demais. Traçando um paralelo, talvez eu tenha a essência de uma bromélia, mas estava plantada num terreno compatível para cactos. Detalhe: meu florescimento dá gosto de ver. Inclusive, gerou um fruto maravilhoso: o meu primeiro livro “A minha vida começa aos 40”.
E você, como tem se sentido? Sente-se “plantada” no terreno certo? Olha, vou te dizer uma coisa: se você está trabalhando com algo que você não tem a menor aptidão, você vai conviver, o tempo todo, com a sensação de incompetência. Trabalhar com algo que não gostamos é uma forma de nos sepultar, em pequenas doses, em vida. Estou escrevendo esse texto em pleno domingo, é algo muito leve para mim. Sabe por quê? Porque eu amo escrever; porque estou exercendo o meu propósito de vida.
Outra coisa: se você se relaciona afetivamente com alguém incompatível, você vai carregar um sentimento crônico de ser difícil de ser amada. E vai se culpar; e vai achar que você é o problema. Você vai achar que o amor é para todos, menos para você. É possível que você se sinta feia, desajeitada e indigna do aconchego desse sentimento maravilhoso. Ei, preste atenção: na companhia certa você vai se sentir o oposto de tudo isso. Vai se sentir linda, capaz, poderosa, engraçada e amável.
Resumindo: não tem como a gente florescer no lugar errado. É impossível que as nossas melhores flores brotem num ambiente estressor. Florescer de que jeito? O florescimento de uma mulher é incompatível com a humilhação, com o desrespeito ou com a invalidação da essência dela. Profissionalmente, não tem como florescer num ambiente hostil e opressor, no máximo, você vai adquirir a síndrome do Bournout.
O objetivo desse texto é convidá-la a se liberar dessa culpa por não estar entregando as flores que a sociedade, família ou o seu meio religioso tem te cobrado. Você não precisa provar nada a ninguém. E você não vai conseguir tirar leite de pedras. Por mais sábia que você seja, você precisa do comprometimento do seu parceiro para ter um relacionamento saudável e próspero. Trata-se de uma parceria, os dois têm que estar comprometidos.
Sabe, a gente até sobrevive em meio a tantos estresses. Contudo, eu não estou falando de sobrevivência, estou falando de vida abundante. Estou falando de florescimento, do desabrochar da sua essência. Eu desconfio que você, assim como eu, não temos mais idade de carregar pedras.
Você não tem obrigação nenhuma de florescer onde está plantada. Se for o caso, vá florescer em outras pastagens. Leve a sua sementinha para um terreno compatível com a essência dela. Texto de Ivonete Rosa