Para você que abandonou o barco
Para você que abandonou o barco
Começo esse texto parabenizando-o pela coragem de ter desistido daquilo que tanto o incomodava. Isso mesmo, parabéns por ter se posicionado, e pensado em você. É possível que você se pegue pensando: “por que demorei tanto naquela situação? Eu deveria ter feito isso há muito tempo”. Escute-me: não se culpe, celebre. Antes tarde do que nunca. Outra coisa: não foi tarde, foi na hora certa. Foi na hora que você conseguiu. Parece clichê, mas isso é muito sério, você precisou chegar até aquele limite para poder sair sem olhar para trás. Talvez, se você tivesse desistido antes, possivelmente, uma dúvida ou uma insegurança ficasse te atormentando.
Eu não faço ideia do que você esteja abrindo mão. Pode ser um relacionamento que estava te sepultando em vida; talvez um emprego que estava te causando crises de ansiedade ou até de pânico; quem sabe um vínculo familiar que você, finalmente, entendeu que não era obrigado(a) a conviver porque a pessoa sempre foi indigesta contigo; talvez uma “amizade” que já não fazia mais sentido na sua vida, pois o ciclo havia se encerrado, mas você se sentia culpado(a). Enfim, pouco importa o que você tenha decidido abrir mão, o que importa foi a sua decisão de se respeitar, e de impor limites.
Ainda que você esteja enfrentando severas críticas dos seus amigos e familiares, não se culpe e não se deixe intimidar. Considere os seus reais motivos para ter tomado a sua decisão. Ninguém está na sua pele para se sentir no direito de fazer escolhas por você. Apenas tenha em mente que os ônus e os bônus serão de sua inteira responsabilidade.
Sabe, é muito comum as pessoas darem pitaco quando alguém toma uma decisão importante. Vou te dar um exemplo: eu estou cansada de ver pessoas em relacionamentos infelizes aconselhando outras a se manterem em relações frustradas. O que fica claro para mim é: quem está estagnado, e sem perspectiva sente-se confrontado ao ver pessoas próximas, numa situação semelhante, se movendo em prol de uma mudança de vida. É como se batesse um sentimento de desamparo. Afinal, com quem vou me queixar das minhas mazelas, se o fulano mudou de ciclo? Pois é, o fulano decidiu mudar de vida, foi tentar uma nova história para ele. Isso incomoda demais quem decidiu viver se lamentando sem mover um dedo para mudar alguma coisa.
Eu já ouvi conselhos do tipo: “não mexe com separação, não. Tá difícil homem no mercado”; “Pra quê fazer faculdade com 40 anos, se você já tem um emprego estável”? “Pra quê mexer com esse negócio de escrever? Você vai perder tempo e não vai ganhar dinheiro com isso”. Graças a Deus não dei ouvidos, né?
Chega uma hora em que a gente precisa ficar surdo para os ruídos externos, e ampliar os ouvidos da nossa intuição. É sobre não deixar a opinião alheia nortear as nossas escolhas. É sobre assumir as rédeas da nossa vida e dar vazão ao que faz sentido para nós. Repito: temos que ter peito para lidar com os ônus e os bônus, sempre.
Não faz sentido ficar ouvindo palpites de tantas pessoas, que conhecem superficialmente, enquanto a sua própria voz interior é ignorada. Não é justo viver para agradar, para se encaixar, para ser aceito. Você recebeu essa vida para cuidar dela, não para que outros a administrem. E, antes que eu me esqueça: ninguém vai deixar de ser feliz por você. Portanto, faça o que for melhor para si. Busque sabedoria, encha o peito de coragem e permita-se. Há infinitas possibilidades para você recomeçar. Se você desistiu de algo, você teve os seus motivos, eu parto desse princípio. Ah, outro lembrete: não vale desistir dos filhos, certo? Texto de Ivonete Rosa