Tio Porfírio, o senhor foi a minha referência na infância
Tio Porfírio, o senhor foi a minha referência na infância
Querido tio Porfírio, ainda sem acreditar na sua partida, quero homenageá-lo.
O senhor foi referência na minha infância, tio. Eu sempre o admirei. Quando o senhor ia nos visitar na roça, eu ficava impressionada com a sua inteligência e postura. Me chamava a atenção o seu jeito de conversar, o seu vocabulário tão rico. Eu, aquela menina caipira, que já tinha alma de escritora, ficava encantada com tantas palavras que ela não conhecia.
Eu pensava: “nossa, como ele fala bonito! Eu queria falar desse jeito”! Lembro-me perfeitamente do quanto o senhor valorizava a cultura e a educação. Um verdadeiro autodidata que destoava da realidade do lugar onde eu vivia.
Quero falar da sua contribuição em minha vida. O meu pai e o senhor se comunicavam por cartas todos os meses. Quando eu fiz 9 anos, o meu pai me passou a responsabilidade de escrever aquelas cartas. Toda carta que o meu pai me pedia para escrever, tinha no verso, uma carta minha. E o senhor, quando respondia à carta do meu pai, respondia a minha também. Aquela menina amava ler que a caligrafia dela era bonita e que a redação estava muito boa. O senhor não imagina o quanto era maravilhoso ser elogiada por alguém que eu admirava tanto. Eu me sentia muito importante, tio.
Tenho, guardadas em meu baú de memórias afetivas, todas as palavras de incentivo que o senhor me disse. Como dizem “as nossas digitais ficam tatuadas nas vidas que tocamos”.
Depois de adulta, eu amava conversar com o senhor. O meu tio sabido, intelectual. Obrigada por ter feito a diferença na vida de tanta gente.
Eu sou grata a Deus pela oportunidade de ter me despedido do senhor, ontem, de ter dito o quanto o admirava.
Que os anjos o recebam, tio. Que o senhor reencontre todos os seus irmãos e os nossos ancestrais. Que a sua chegada no plano espiritual tenha sido uma festa. Deixou muita falta por aqui. Muito obrigada pelos seus 82 anos aqui na terra. Um dia estaremos todos juntos.