Não se culpe. Se repetir, faz parte
Se for bom, que tudo aconteça novamente. Se não, que possamos nos reinventar. E não é que isto é repetição? Então, que a gente se reedite numa versão melhor para depois se repetir.
As pequenas felicidades se repetem. Os frios na barriga, também. Bochechas coradas em determinadas situações, idem. Há momentos que faltam palavras. Acontece. E, bem naquelas horas em que era para a gente dizer muita coisa e abrir o coração, lágrimas caem por motivos bobos e, muitas vezes, iguais aos mesmos motivos que já experimentamos em outras ocasiões.
A vida é uma repetição. Repetimos gestos, atitudes de carinho, palavras ásperas. Repetem-se os medos, pensamentos negativos; às vezes, até mais que os positivos. Repetem-se probleminhas ou problemões de saúde.
Repetem-se pessoas em nossas vidas, convites. Mesmo que todo dia seja um novo dia, somos muito condicionados, mas a vida é assim.
E para variar, é para a gente aprender, mesmo que na nossa vã interpretação, não aprendemos nada e aquele fato ou situação poderia não ter existido. Vai entender. E a gente repete comportamentos da infância. Parece que ela não foi vivida plenamente e vamos lá buscar estas situações e revivê-las, como um resgate.
Quando coisas boas acontecem com frequência, o negócio é aproveitar, entrar nesta frequência, desejar mais e vibrar na energia sem permitir que outras coisas interfiram na sensação boa do que já aconteceu.
Nada é exatamente igual, mas a gente revive tanta coisa com tanta intensidade.
Visitar os mesmos lugares, falar com as mesmas pessoas, cantar as mesmas músicas, se fizerem bem, que se tornem exercício diário. Ah é bom mudar, claro que é. Isto não quer dizer que você vai viver sempre do mesmo. Não é bom repetir beijos de bocas especiais? Ora, permita-se!
Nós queremos a vida empacotada, explicadinha, queremos dominar sentimentos, palavras, atitudes. Desejamos menos erros, menos pensamentos bobos, menos ansiedade, menos julgamentos. E crescemos percebendo que numa curva, ali, quando era para tudo estar predeterminado, o negócio degringola, sai do eixo e perdemos o controle. Eita! Bora se refazer.
Mas a gente consegue, a gente se supera, surpreende e repete o sorriso e o suspiro de “enfim”. Repetir-se é um processo da vida. É algo recorrente. Não é pecado, não precisa ser sofrível, a gente só se bagunça um pouco.
Se for bom, que tudo aconteça novamente. Se não, que possamos nos reinventar. E não é que isto é repetição?
Então, que a gente se reedite numa versão melhor para depois se repetir.
Texto de Kênia Casagrande