O vendaval vai passar e vai deixar o que você precisa
Alguns desmoronamentos que encaramos ao longo da vida nos deixam, literalmente, sem chão, e sem rumo. Já sobrevivi a vários terremotos existenciais e estou aqui, vivíssima e cheia de gratidão.
Em 2016, em pleno divórcio, decidi reformar o meu apartamento que estava fechado. Eu precisava de energia nova naquele espaço que receberia a nova mulher que eu me tornara, juntamente com o meu filho.
Eu lutava contra uma depressão severa, fazia psicoterapia, fazia acompanhamento com um psiquiatra, me dopava de medicamentos e fazia faculdade. Eu tinha o peito abarrotado de angústias e olhos marejados. Contudo, tive a sorte de encontrar um excelente terapeuta que me conduziu naquele labirinto existencial.
Um dia, antes de ir à terapia, passei pelo meu apartamento, foi o dia que iniciou a reforma. Em minha frente, estava um verdadeiro caos. Tudo quebrado e revirado em meio a uma grande névoa de poeira.
Naquele instante, meu ouvido espiritual ouviu a seguinte mensagem: “tá vendo esse apartamento, tá horrível, né? Mas, não se preocupe, daqui a três semanas, ele estará apaixonante e será o melhor lugar do mundo para você. Quero que você entenda que será assim também com as suas emoções, com a sua vida, com a sua casa interior. Tudo vai se ajeitar, Ivonete, essa quebradeira e essa desordem são necessárias, mas o resultado vai valer a pena”.
Me arrepiei toda e segui para a terapia. Lá, expus ao meu psicoterapeuta toda a minha percepção acerca do meu apartamento e de mim mesma. Ele também se emocionou. Foi um momento lindo. Ele captou o que eu sentia e acreditou em mim. Algumas semanas depois, estávamos de mudança para o nosso espaço novinho, eu e o meu filho.
Minhas emoções foram, a cada dia, se organizando. Uma coisa puxava a outra, o fato de eu me priorizar foi o fio condutor para a minha cura. Comecei a me dedicar à escrita, acordava de madrugada e escrevia. Ali, éramos eu e minhas muitas mulheres em total harmonia e acolhimento, nos comunicando.
Passei a me perceber e a dar voz ao que sentia. Como o Universo sempre se encarrega de nos conduzir ao nosso eixo, poucos meses depois eu estava publicando textos em vários sites. Tudo o que doía em mim, eu transformava em textos e poesias, e, para a minha surpresa, me dei conta de que eu falava com milhares de mulheres por esse mundo a fora. Elas se identificavam com as minhas vivências, e esboçavam gratidão comentando os meus textos publicados. Muitas me agradeciam no reservado. Que experiência gratificante essa de poder tocar outras vidas usando o nosso dom! Eu via a minha vida fazendo sentido, ao contrário do que aquela maldita depressão berrava em meus ouvidos na fase anterior.
A depressão foi, aos poucos, me abandonando. Eu usava três medicamentos controlados, e, à cada ida ao psiquiatra, ele ia me liberando deles. Na última consulta, eu disse: “Doutor, eu não preciso mais de medicamentos, eu já me encontrei, eu estou bem, quero voltar a trabalhar. Eu descobri que a minha missão é escrever, eu já encontrei o meu antidepressivo nessa vida”. O psiquiatra me olhava sorrindo com os olhos enquanto eu falava, euforicamente. Ele me disse: “de fato, você está ótima, você traz brilho nos olhos, nem de longe lembra aquela paciente do início do tratamento, vou te liberar.”
Assim, abri espaço para novas escolhas, que condizem com a minha verdadeira essência. E os frutos chegam a todo instante: estou concluindo minha faculdade de psicologia, tenho o meu site Portal Resiliência, tenho sonhos, projetos, tenho vida, tenho gratidão. A depressão foi o auge da minha insatisfação. Meu organismo e minha alma adoeceram, prostraram numa cama. Mas, estou aqui firme, forte, feliz e motivada. Não significa que não tenho dificuldades, nem problemas, mas agora é diferente: “tô tão tranquila e tão contente”.