Eu ia telefonar depois… mas, ficou tarde demais
“Mãe, a minha vó está internada”. “Ela está na UTI…” Eu queria orar. Chorar… Peguei o telefone pensando em mandar uma mensagem, um áudio. Quem sabe, telefonar? Mas era tarde demais… Então, mandei mensagens para os mesmos portadores das últimas mensagens, quando evitava o contato direto e na sequência fui tomada por uma onda de remorso e arrependimento que maltratavam demais meu coração. Eu deveria ter ligado naquele dia em que a coragem me faltou. Ou naquele outro dia em que fugi das verdades que ela me diria. Talvez, naquele dia em que ela deixaria o telefone tocar e não me atenderia de propósito pra demonstrar, em mágoa, o amor que sentia. Eu só… Só deveria ter ligado. Deveria tê-la feito ouvir o som da minha voz pedindo desculpas e dizendo o quanto, por Deus, eu sempre vou amá-la. Mas eu não liguei… Porque a gente é assim, adia, se adia, sabe do inevitável, mas foge dele e se engana. Não perde aquele programa inútil na TV, mas deixa a visita àquele tio implicante pra outro dia, porque, caramba, ver TV é bem mais divertido! Até que um dia vai visitá-lo contemplando um corpo mórbido e inerte para o qual dizemos um monte de palavras clichês que se perdem no vácuo do nunca mais. Eu nunca liguei… Nunca dei aquele telefonema, ainda que não fosse para me desculpar, mas para falar da minha própria dor e me fazer entender. Deixei para depois, porque nós somos assim mesmo, fazemos uma pausa ridícula para fotografar o prato e postar no Instagran, não ouvimos as lamúrias repetitivas dos avós porque estamos com fones no ouvido quando deveríamos estar apenas conectados às pessoas que são realmente importantes em nossas vidas. Nós somos assim… Gastamos horas das nossas vidas empenhados no ter, no ser o que esperam que sejamos. Nós partimos para longe de quem amamos e nos tornamos tão próximos de amigos passageiros… Enquanto nossos pais envelhecem em uma realidade que ignoramos, porque estamos às voltas, preocupados apenas com nós mesmos, alimentando sentimentos ruins e inúteis, que só nos fazem mal. É assim que somos… Batemos a porta e saímos irritados, fomentamos uma discussão tola com quem amamos achando que no final do dia poderemos chegar em casa e finalizar aquilo, colocar os pingos nos is; sem nos darmos conta de que o fim do dia pode ser abreviado por uma pausa forçada da vida, aquela que nos faz ver a tolice do tempo desperdiçado em mágoas tolas, em sentimentos negativos e vazios. A vida é aqui e agora. É para ser vivida de forma respeitosa, respeitando seu corpo, sua mente, o próximo, mas para ser vivida, já! O depois pertence a uma conjugação que pode nunca acontecer. Depois, combina com tarde demais. A gente discute por tolices, envenena a alma com ciúmes infundados, alimenta mágoas que são muito mais fruto do modo como nos vemos do que pelo que o outro fez realmente e… Esperamos que o tempo resolva tudo. Ele resolve. Às vezes ele vem feito um tornado e leva tudo embora, esfrega na sua cara o depois e te diz: passei, e agora, é tarde demais. Agora eu não tenho quem atenda meu telefonema, para eu falar, não das dores que senti, mas pra dizer apenas que eu sinto muito e que sinto todo o amor do mundo, mas eu não disse… E agora só consigo sentir medo de ser tarde demais. “A vida é agora… Vê se não demora pra recomeçar…” |
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