A felicidade anda de mãos dadas com a gratidão

 In Comportamento, Reflexão/Espiritualidade

A felicidade anda de mãos dadas com a gratidão

__Ivonete Rosa

A felicidade é muito democrática. Ela, por ter um conceito tão individualizado, está ao alcance de todos. Equivocadamente, incorremos nessa ideia de associá-la ao ter dinheiro, ter coisas, ter poder, ter beleza, ao ter sucesso, enfim.

Não estou afirmando que esses quesitos não possam ser aliados da felicidade, não é isso. Contudo, eles, por si só, não são garantias para tê-la. Percebo que a felicidade é muito mal interpretada, mal compreendida e, com frequência, desperdiçada. Acontece de você tê-las em mãos e não se dar conta disso.

Certamente, você já ouviu, pensou ou verbalizou a frase “ah, eu era tão feliz e não sabia”. Eis aí o X da questão, a felicidade e o cotidiano se misturam então, só a percebemos quando nos distanciamos daquilo que, por ironia do destino, não demos o devido valor.

 Sabe quando você se depara com um filho ou alguém querido  doente, acamado num leito de hospital? Bem, nessa circunstância, você se dá conta do quão feliz foi ao ter seu filho bagunçando pela casa, enquanto sentia-se estressado(a) clamando por sossego. A saúde é uma amostra da felicidade. Mas, nem sempre a valorizamos devidamente. Por vezes, é necessário perdê-la para nos conscientizarmos do quão rico somos por tê-la.

Atuando como  Bombeira, pude constatar a queda do  mito de que ter dinheiro, é, necessariamente, ter felicidade. Atuei em muitas ocorrências em mansões fenomenais tentando evitar suicídios em todas as faixas etárias. Lamentavelmente, me senti impotente em muitas delas. Era tarde demais, o fato estava consumado. Ao redor da vítima, o luxo imperava, na garagem, uns 6 carros importados, contudo, as vidas que ali habitavam estavam com a alma na mais absoluta miséria.

Já presenciei, também, o oposto dessa realidade, vi moradias bem simples, pobres do ponto de vista do conforto e da estrutura. Contudo, em seus interiores, haviam pessoas extremamente felizes e gratas. Pessoas que sorriam com os olhos porque só com a boca não era suficiente. Numa visita que fiz a uma família levando  orientação sobre o controle do mosquito da dengue, uma senhora  veio toda eufórica me confidenciando a realização de  um sonho: fez  o contrapiso do pequeno quintal para as crianças brincarem com mais higiene.

Em 2015,  meu  irmão teve uma perna amputada num acidente de trânsito. Esse acontecimento foi o meu maior aprendizado sobre gratidão que tive na vida. Ele nunca reclamou pela perna perdida. Pelo contrário, ele sente uma gratidão tremenda por ter ficado vivo. É que sua moto chocou-se na lateral de uma carreta numa BR, logo, o fato de ele ter sobrevivido pode ser perfeitamente encarado como um milagre. Ele, sabiamente, optou por agradecer pela oportunidade de continuar vivo, ao invés de se lamentar pelo membro perdido.

 Durante o tempo em que ficou internado no hospital, os parentes ligavam querendo saber do ocorrido, e ele respondia: “eu tô bem, só perdi uma perna”. Ele falava da perna amputada como quem fala de uma unha quebrada, era o que parecia. Eu me dei conta de que nenhum guru em autoajuda nesse mundo me ensinará mais sobre gratidão e resiliência do que meu irmão, que tem apenas o ensino fundamental.

É isso, a felicidade é algo que mora dentro da gente, mas a gente insiste em procurar, desesperadamente, em outros quintais. A nossa capacidade de encarar os revezes da vida e ressignificá-los é o que faz a diferença. Diante disso, um mesmo acontecimento ganha significados diferentes para pessoas diferentes. O que para um significa o fim, para o outro significa a chance de recomeçar e sentir-se grato.

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