Deixe a minha intensidade em paz!

 In Comportamento

           Texto de Ivonete Rosa

Deixe a minha intensidade em paz!

É impossível escrever sobre intensidade sem me expor, eu até que me esforço. Demorei para fazer as pazes com esse traço da minha personalidade. Até isso acontecer, tentei ser mais comedida. Rejeitei a minha essência, por décadas, porque era criticada por pessoas significativas para mim.

As críticas vinham de primas, colegas, namorados.  Eu me lembro de ir, toda empolgada, falar sobre uma paixão com uma amiga e, ouvia: “nossa, pra quê isso tudo?” Eu me sentia ridícula. Eu não me aceitava, queria me encaixar no perfil de mulher sóbria. Eu sentia necessidade de ser aceita, queria vivenciar o sentimento de pertencimento no meu grupo de convivência.  Queria ouvir algo tipo: “você é intensa, que lindo, você sente tudo com a alma”.

Eu era incompreendida, também, na forma de sofrer. As minhas saudades sempre foram viscerais. Um dia, dentro de um mercado, avistei uma senhorinha que parecia a minha mãe que tinha partido há dois meses. Não resisti, pedi um abraço a ela, aos prantos, ela acabou chorando também.

Eu me encanto diante de um pé de flamboyant florido, não importa quantos eu tenha visto num mesmo dia. Gosto de datas, tenho mania de pensar: “há exato um ano, eu vivi tal coisa, e me jogo nas lembranças”. Eu sempre tenho uma música que marcou cada acontecimento.

Eu não meço esforços para viver o que me encanta. Embarco num avião para outro estado para abraçar alguém que despertou o meu encanto. Vou com tudo, obviamente, com a certeza da reciprocidade, não sou inconsequente. Gosto de viver com coração saindo pela boca, de vez em quando. Eu me recuso a viver no automático.

Quando fiz quarenta anos, pude me entender, me aceitar e abraçar a minha bagagem. Percebi que a minha intensidade incomoda, especialmente, as pessoas que não se encantam com nada. Eu simbolizo uma afronta a elas.

Parei de me sentir inadequada. Serei intensa enquanto eu respirar, essa é a minha condição para existir. Tenho a sensibilidade de uma brisa, mas posso ser um vendaval. Eu vivo aceito o ônus e o bônus de sentir tudo com a alma.

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