Vida, você há de me esperar
Vida, você há de me esperar!
Vida, dai-me tempo, por favor. Eu só peço um pouco de paciência, por favor, não acelere tanto os ponteiros.
Vida, sinto um nó na garganta, tenho medo de que você me deixe para trás. Eu tenho um amontoado de sonhos aqui dentro, alguns tão antigos, eu jurava que estavam sepultados, mas me enganei, eles estão aqui dentro, pulsando, mesmo empoeirados.
Vida, eu preciso lhe falar, eu desembestei a sonhar, descobri que posso me reinventar. Diga que sim, promete me esperar? Eu não quero nada demais, eu só quero viver o que lateja aqui na alma, vida, eu preciso trazer tudo isso à tona.
Vida, eu andei repensando as minhas escolhas, quer saber? Eu não escolhi tudo o que trago, aqui tem arbitrariedades alheias que acabei acatando. Vida, me sinto asfixiada com esse fardo que não condiz com a minha alma poeta.
Vida, eu só preciso de um pouco de tempo para organizar esse caos, eu preciso dar um jeito nisso. Eu vou me desfazer de tudo o que não agrega, vou me livrar do que pesa, vou esvaziar as gavetas aqui de dentro. Vida, eu sinto o cheiro da anunciação, do novo que me acena ali na frente, novos temos, com cheiro de poesia.
Vida, eu faço questão de cada detalhe do que está a caminho. Eu quero os meus cachorros, os meus gatos, eu quero aquelas ruas de areia, eu quero aqueles cheiros, aquelas cores, aquela paisagem, aquelas músicas, aqueles risos bobos e escandalosos. Eu quero aquele céu, aquele sol, aquele mar, aqueles sabores. Eu quero aquele flamboyant, eu quero aquele abraço, eu quero aquele amor. Eu quero me permitir, não abro mão, eu quero usufruir. Vida, foi para isso que eu nasci e, você há de permitir.