A carência não é confiável para fazer escolhas
A carência não é confiável para fazer escolhas
Um dia, durante uma caminhada num parque, ouvi um trecho de uma discussão de um casal que caminhava em minha frente. O homem disse, em tom de desdém: “se você não parar com isso, não vai ter casamento nenhum”. Ele falava num tom de ameaça, todo ditador, como aqueles pais bem rígidos ameaçando punir os filhos.
Eu pude captar muitas coisas naquelas entrelinhas. Ele deixava transparecer que a ideia de casar com aquela mulher seria um grande favor que ele faria a ela. Ela apenas ouvia, sem dizer nada. Eu senti pena dela, fiquei pensando no que a levou a viver aquilo. Talvez você esteja me achando precipitada nessa análise, mas ali não ficou dúvidas de que se tratava de um relacionamento disfuncional.
Existem pessoas entrando em relacionamentos motivadas por pressões da família, do meio social, do meio religioso. Há uma urgência em responder às expectativas alheias, enquanto abandonam a própria dignidade.
Relacionamentos sem admiração, sem respeito, sem química, sem afeto, sem entrega, sem cumplicidade, sem projetos, sem afinidades, enfim, parece que para muitos, o que importa é mostrar ao meio social que eles “têm alguém”. São pessoas se abandonando em troca da mais cruel das solidões: a solidão a dois.
Parece clichê, mas é uma realidade: a gente precisa ter consciência do que merece; a gente precisa ter clareza acerca do nosso valor, do contrário, viveremos sempre de migalhas. A carência não pode, jamais, ser o carro chefe das nossas escolhas pois ela não tem critérios para decidir sobre algo tão sério.