Sobre a minha primeira viagem sozinha

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Texto de Ivonete Rosa|@ivoneterosapsi

Sobre a minha primeira viagem sozinha

Eu já perdi as contas das vezes em que eu tive possibilidade e vontade de viajar, mas não fui porque não tinha companhia. As amigas até queriam ir, mas estavam casadas, ou namorando ou trabalhando ou sem dinheiro.

Atuando como psicóloga, me vi, várias vezes, incentivando minhas pacientes a viajarem sozinhas. Acontece que, na prática, eu não conhecia essa experiência. Isso me gerou um certo incômodo, um sentimento de ser uma farsa. Eu me peguei em alguns momentos me questionando: ah, bacana, você passar esse dever de casa para as pacientes. E você, quando vai viver isso? Quando vai poder falar com propriedade sobre isso?

Em razão da pandemia, as viagens só foram liberadas há alguns meses, e eu decidi encarar o desafio de viajar sozinha pela primeira vez. Escolhi um lugar desconhecido porque eu não queria me deparar com nenhuma recordação. O destino escolhido foi Florianópolis. Data de ida: 22 de novembro de 2020; data de retorno: 29 de novembro. Na hora de arrumar a mala, já percebi a diferença: escolhi tudo pensando só em mim, o que não acontecia quando eu viajava como casal. Foi uma bagagem super enxuta, leve. Nesse ritual de arrumar a mala, percebi que estava me libertando de excessos materiais e emocionais, eu não sou mais a mesma, definitivamente.

Chegou o dia do voo, fui de Uber ao aeroporto de Brasília. 11h, o avião decolou. Conexão em SP. No aeroporto de Guarulhos, desembarquei curiosa, ao mesmo tempo em que observava os meus sentimentos. Eu estava bem, segura e tranquila, apesar do cansaço. Desembarquei em Floripa às 19h. Me dei conta de que era eu por mim mesma num lugar completamente estranho. Chamei um táxi rumo ao hotel.

No percurso para o hotel, fui observando a cidade, mas o motorista era falante, não pude me concentrar como gosto. Cheguei no hotel, fiz checkin e subi para o quarto. Tomei banho e saí para jantar, estava faminta. Voltei e dormi, eu estava exausta. Meu emocional estava ótimo, dormi bem, não senti medo de nada.

Eu adorei a liberdade de me deitar e me levantar na hora em que eu bem queria, sem me preocupar em agradar ou desagradar ninguém. Eu passei curtir tudo, até pequenos detalhes: tipo acordar no meio da noite ler, sem me preocupar; assistir vídeos, ver TV, enfim, aqueles momentos eram todos meus. Eu me sentia inteira e acolhida ao decidir o que fazer com o meu tempo.

Eu escolhia os passeios, onde comer, o que comer e a hora de comer, sem estresse. Eu podia ouvir minhas músicas favoritas quantas vezes eu quisesse, sem ser criticada ou censurada por isso. Outra coisa que eu amei: andar pelo comércio, ver vitrines, provar roupas, ver o pôr do sol, tudo no meu ritmo. Isso foi tão bacana para mim. Eu sentia muita ansiedade quando viajava com alguns ex e não podia viver esses momentos com leveza.

Eu amava caminhar pela praia, parando, meditando, fotografando, me encantando e me apaixonando pela minha nova versão que nascia ali.

Foi maravilhoso sentar num quiosque, em frente ao mar, pedir minha cerveja e degustar uns petiscos ouvindo MPB. Eu senti tanto orgulho de mim. Depois em me esparramava numa espreguiçadeira e tomava o meu sol.

Eu não fiz amizades, apenas interagia com os garçons, motoristas de Uber e vendedoras. Sou tímida e as pessoas lá eram bem reservadas. Mas não senti falta. Eu queria estar comigo e estava amando a minha companhia.

Uma seguidora que virou minha amiga, a Nágela, me reconheceu na praia. Caminhamos juntas e tomamos sorvete, foi muito bom. Parecia que alguém marcou o nosso encontro por alguma razão. Aquilo não foi por acaso.

Me dei conta das viagens românticas que fiz, recheadas de frustrações. Eu ia cheia das expectativas, mas inevitavelmente, vinham os momentos em que eu chorava por algum ou vários desgostos.

Lamentavelmente, nós, mulheres, nos privamos de viver experiências incríveis pelo simples fato de não sermos criadas para sermos livres;

Refleti sobre os meus ex relacionamentos, percebi o quanto foram abusivos. Eu não quero mais intercalar momentos de euforia com momentos de angústia. Daqui para frente, só vou aceitar parceria amorosa com alguém que me traga paz e leveza, nada menos do que isso;

Eu me senti livre; meditei bastante; me perdoei por tantos abusos que permiti.

Foi uma experiência libertadora. Foi um renascimento.

Já estou planejando a próxima viagem, estou me sentindo um pinto no lixo.

Em nenhum momento senti angústia, tédio ou solidão. Eu precisei viver aquilo para estar mais conectada à minha essência.

Agora, posso dizer às minhas pacientes e seguidoras: faça uma viagem sozinha. Eu vivi isso e adorei.

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