Para você que se culpa por não ter ido embora antes

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Texto de Ivonete Rosa|@ivoneterosapsi

Para você que se culpa por não ter ido embora antes

Eu sei que você se culpa muito pelas relações indignas que viveu. Com a consciência que tem agora, você olha o passado e detecta todas as situações que lhe causam uma indignação profunda. Enquanto relembra cada detalhe, algumas perguntas, em tom de acusação, insistem em gritar em sua mente: por que aceitei aquilo? Por que não fui embora naquele exato momento? Por que dei uma nova chance àquela pessoa se eu não acreditava na mudança dela? Por que deixei que pisasse em minha dignidade daquela forma? Por que ignorei todos os sinais de que estava entrando numa barca furada?

Esses são alguns dos possíveis questionamentos que tem feito a si mesma, mas é possível que existam muitos outros, afinal, cada realidade é única. Além das acusações que esses diálogos internos promovem, existem ainda as auto punições. Você se sente paralisada, remoendo o passado, sentindo muita vergonha de si mesma e, com uma profunda mágoa por todas as pessoas que pisotearam as suas intenções mais bonitas. Falo isso porque é possível que você tenha se ferido após jurar a si mesma que nunca mais cairia na lábia de nenhuma alma má intencionada.

Pode ser que você tenha se decepcionado após um longo período de luto, se refazendo, buscando ficar inteira após uma longa trajetória de relacionamentos indignos. Sim, você coleciona histórias dolorosas que fragmentaram a pouca autoestima que você tinha, e que contribuíram para que você internalizasse a crença de que o amor não é para você. Você acabou assinando uma sentença de que é uma mulher difícil de ser amada, respeitada e valorizada.

Sentir-se indigna do amor é o preço que pagamos quando entregamos o que temos de melhor a quem não merece nada. O problema é que você, na ânsia de fazer dar certo, entregou sempre o melhor que você tinha, chegando ao nível do sacrifício. Chegou num ponto em que você se esqueceu de que um relacionamento amoroso é uma parceria que envolve duas pessoas, e que ambas precisam estar dispostas e empenhadas nesse propósito.

Deixe-me lhe dizer uma coisa: não compensa você ficar se punindo pelo passado. De novo, a velha frase clichê: você fez o que conseguiu fazer, com os recursos emocionais que possuía. O importante é que você conseguiu despertar. Nem todas conseguem abrir os olhos, sabia? O seu despertar é para ser usado a seu favor, não para punir as suas versões anteriores. A ideia é que você faça escolhas dignas daqui em diante, não que você fique com o dedo em riste, apontando e julgando quem você conseguiu ser antes.

Sempre que essas memórias densas vierem à tona, diga a elas: eu as perdoo, e agradeço pela oportunidade de aprender com vocês o que não devo permitir em minha vida. Solte-as!

No fim, querida, tudo foi contribuição para que você se tornasse a mulher que é hoje. Escolha sentir dessa forma. Aquele ex parceiro que não te valorizou te mostrou que aquele lugar não é para você. Algumas lições, só conseguimos aprender na prática, infelizmente. É hora de celebrar a sua nova consciência, e o seu amor próprio que nasceu depois de tantos fundos de poços. Solte o passado, não dê poder a ele.

De uma coisa eu tenho certeza: você não perdeu nada, nem ninguém. Que bom que aquelas histórias não vingaram, você não seria uma personagem feliz em nenhuma delas. Agora, é hora de cuidar dessa casa interior, de fortalecer as suas bases, para nunca mais implorar para morar de favor na vida de alguém.

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