Carta para a minha parteira
Carta para a minha parteira
Querida Maria dos Anjos de Jesus, minha parteira. Peço a sua bênção. Eu sei que a senhora não sabe ler, por isso, eu pedi a um anjo para ler essa carta para senhora.
Nesse momento, sinto uma profunda vontade de externar toda a gratidão que sinto pela senhora. Muito obrigada por ter me recebido do ventre da minha mãe, com as suas mãos calejadas, naquele 12 de janeiro de 1975. Suas mãos foram escolhidas por Deus para me trazer ao mundo. Eu te honro.
Das suas mãos, recebi o primeiro toque nessa vida. Eu te celebro. Os seus ouvidos, juntamente com os da minha mãe, foram os primeiros a ouvir o meu primeiro choro. Eu te reconheço.
O primeiro rosto que vi nessa vida, foi o seu. Rosto de uma mulher forte, guerreira, destemida, amante da natureza. Mulher solidária e generosa que socorria tantas outras. Obrigada por ter amparado a minha mãe naquela noite, por ter estado com ela, por ter passado segurança e por me receber quando chegou o momento de eu me despedir daquele ventre que me abrigou por 9 meses. Tu és bendita, Maria.
A senhora deixou um grande legado, sabia? A sua existência me ensinou que não existe mulher fraca. A senhora, uma viúva pobre que morava numa tapera num pé de serra, sem recursos financeiros, que conheceu a fome de perto, que foi mãe, e avô. Uma mulher negra, discriminada, excluída, explorada e abusada, e injustiçada. Contudo, ainda assim, foi o suporte para a maioria das mulheres daquela comunidade. Na hora que as dores do parto batiam palmas na janela, os maridos corriam até a sua porta pedindo socorro. A senhora era a médica que aquelas pessoas conheciam. Senhora, amiga das ervas, eu te amo. Sinto muito por tudo o que sofreu na vida. O feminino que habita em mim, saúda o feminino que habita a senhora. O seu feminino cura o meu. E essa mensagem vai chegar ao seu coração em forma de cura, eu acredito. Receba o meu abraço, alma bendita.